Vinho verde CASTELÕES

Uma copada de CASTELÕES e um pires de moelas

por Américo Almeida

Vinho verde CASTELÕES
Vinho Verde Castelões

Noutros tempos, não muito longínquos, o vinho verde “Castelões” era, para os amantes das patuscadas e petiscadas, uma espécie de elixir da eterna juventude.

Em qualquer tasca, de prestígio ou rasca, pedia-se “Castelões”.

O acompanhamento eram os petiscos, fosse moelas, orelheira, uma isca, um prego ou churrasco.

Sobretudo no Verão, pois, claro, umas copadas de “Castelões”, servido bem frio, faziam valer a pena esperar pelo Sábado ou Domingo à tarde.

O Nelson Ned cantava que não sabia o que fazer no Domingo à tarde, mas a rapaziada de Guisande, sabia e bem: Namorar e depois, porque o namoro faz sede, umas copadas no balcão dos bancos de pernas altas do Américo ou em mesas de fórmica noutros locais de culto.

Deixou, por isso, saudades, esta emblemática marca de vinho, engarrafada em Vale de Cambra, pela empresa Bastos & Brandão, L.da.

O vinho era proveniente da região demarcada do Vinho Verde, da qual fazia (e faz) parte Vale de Cambra, com base nas castas Loureiro, Trajadura e Arinto.

A malta, mesmo sem perceber de castas, acreditava que sim.

A Bastos & Brandão, L.da foi fundada por Manuel Brandão e Manuel de Bastos, que morreram em 1986 e 1990, respectivamente.

A empresa foi fundada em meados da década de 1950. Depois disso mudou de mãos e passou por processos de insolvência.

Não consegui apurar se ainda existe e em actividade ou se mudou de nome. Certo é que a marca “Castelões” já não existe desde há alguns anos.

Outras marcas engarrafadas pela empresa valecrambrense, como a “Aniversário” e a “Valverde“, também já desapareceram.

Para avaliar da fama do “Castelões”, posso dizer que colhi a informação de que, pelo final da década de 1990, as vendas cifravam-se em 6 mil garrafas por semana.

Este “Castelões”, a que se refere o rótulo acima, característico na sua forma triangular, era considerado como levemente adamado e a exigir servir-se “muito frio”.

No meu tempo de rapazola, este “Castelões” estava para a rapaziada como agora a “Coca-Cola” está para a juventude.

Também fazia arrotar, mas, ao contrário da bebida negra açucarada, o “Castelões” propiciava outras aventuras.

Muitas delas poderia aqui contar, mas teria que pôr bolinha vermelha a classificar o texto.

Acrescente-se que, por esses tempos, não havia boda de casamento que não fosse fornecida de “Castelões”.

A malta solteira lá conseguia passar, por debaixo da mesa, alguns exemplares que mais tarde serviam para refrescar conversas.

O “Campelo” e os “Três Marias” faziam forte concorrência mas a malta não trocava pelo “Castelões“.

De resto, alguns de nós tínhamos um lema:

“Homem que tenha …lhões, bebe “Castelões”.

À parte alguma brincadeira, o vinho verde “Castelões” é uma das marcas que a malta da minha geração associa a petiscadas e convívios de boa camaradagem.

Aquela vinhaça esverdeada em garrafas, com aquele inconfundível rótulo triangular, ajudou em muito a cimentar amizades e a fartar barrigas.

Eu e a minha aldeia de Guisande