Estação 9 – Na Escola
Localização: Avenida Serafim Ferreira Paiva, n.º 200 – lugar de Santo António.
Local de implantação: Junto à entrada “de baixo” da escola primária – antiga escola masculina.
Coordenadas GPS: 40°49’42.31″N 8°25’59.33″W
Distância total: 1.57 Km (pedestre) / 1.41 Km (automóvel).
Próxima Estação: 27 m.
Na escola
«Aos seis anos fui para a escola[1]. Era de Inverno. Ia de chancas, friorento, enroupadito. Creio que foi minha mãe quem me acompanhou até meio-caminho. Não me recordo bem. Mas lembro-me, nitidamente, da minha entrada na escola.
Lá estava, ao fundo, à secretária instalada sobre um estrado, o sr. professor Portela.
Era gordo e de carne muito branca e fofa. No primeiro plano, as carteiras com os alunos chilreantes. Alguns conhecia-os eu cá de fora. Mas tomavam, ali, para a minha timidez, o papel de inimigos.
Eu sentia um respeito enorme por tudo aquilo e estava envergonhado. Sentei-me a uma das carteiras e, não tendo coragem de levantar os olhos, fixei-os no abecedário, que crescia e se deformava constantemente. […]
Eu era bom aluno. Tinha, porém, uma vida triste e afastava-me quase sempre dos meus condiscípulos.
Certos episódios, que os deixavam indiferentes, faziam-me sofrer o dia inteiro, sobretudo na solidão que eu buscava. […]
Aos nove anos fiz o meu primeiro exame, ficando, de todos os examinandos, apenas eu e o filho do professor a estudar para o segundo.»[2]
[…]
«[Em 1910] realizei, finalmente, o segundo exame.
O professor, desejando comemorar o facto, tinha encomendado, na vila, um jantar, para o qual se matara de propósito um coelho. Mas tudo acabou dramaticamente.
O filho do mestre ficara reprovado. Comemos o coelho entre as lágrimas do Luís e silêncios, penosos como se estivéssemos numa ante-câmara fúnebre.»[3]
«Entendi que, por tal motivo, o meu nome era digno de vir no semanário da vila e fiquei a aguardar impacientemente que saísse o novo número.
Desilusão! Outros, que haviam sido muito menos brilhantes do que eu, tiveram lá elogiosas referências, nas quais não eram olvidados os progenitores — gente rica da terra, comerciantes e funcionários…
Eu era como se não tivesse ido à escola, como se não tivesse feito o exame, como se não existisse!»[4]
[1] Em 1904. [2] Ferreira de Castro, «Memórias [1931]», Jaime Brasil, Ferreira de Castro e a Sua Obra, Livraria Civilização, Porto, 1931, pp. 8-10. [3] Ferreira de Castro, «Memórias [1931]», Jaime Brasil, Ferreira de Castro e a Sua Obra, Livraria Civilização, Porto, 1931, p. 16. [4] Ferreira de Castro, «O segredo das nossas derrotas… Como eu fui o preso no Limoeiro», Grandes Repórteres Portugueses da Ι República, Foto Jornal, Lisboa, 1986, p. 94.