Estação 12 – Cemitério
Localização: Largo dos Combatentes 1914-1918 – lugar de Santo António.
Local de implantação: Portão principal do cemitério, à esquerda da entrada.
Coordenadas GPS: 40°49’44.34″N 8°26’3.81″W
Distância total: 1.71 Km (pedestre) / 1.55 Km (automóvel).
Próxima Estação: 15 m.
Cemitério
Quando chegou a casa, vindo do Brasil, é que Manuel da Bouça tomara consciência da morte de Deolinda.
«— Minha rica mulher. Minha rica mulher!
A figura da morta passava, enredada à sua vida pretérita, numa grande saudade, numa dor intensa pelo tempo esvaído, que não voltaria mais, que não voltaria mais…
“Havia de ir ao cemitério ver onde estava a pobre; e, se pudesse, compraria a sua sepultura para que mais ninguém lá se enterrasse” […].[1]
Em frente do cemitério, duas austrálias projectavam sombra. Não se recordava delas, não as deixara ali.
Lá dentro havia também ciprestes que não estavam identificados na sua memória e alguns mausoléus novos.
Outro estado de espírito o dominava agora.
Estendeu o braço e respeitosamente, quase receosamente, como se fosse para um roubo, empurrou a porta gradeada.
[…]
“Onde estaria?”
[…]
Descobriu-a facilmente na humilde irmandade das outras campas rasas. Era a mais recente, a sepultura da sua Amélia. […]
Ajoelhou-se, reuniu as mãos e rezou. Rezou durante muito tempo, por fim já alheio às palavras que os seus lábios murmuravam e todo entregue à imagem, às recordações e à saudade da morta.
As saudades eram cada vez mais intensas. Envolviam o seu passado, a sua juventude, que ressuscitava, nítida, insistente, como se tivesse sido vivida na véspera. […][2]
[…]
— Minha rica mulher! Minha rica mulher, que não te torno a ver! […]
“Felizes tempos! Tivera os seus pesares, porque pesares toda a gente os tem, mas aflição de monta só surgira quando se lhe metera na cabeça a ideia de ir para o Brasil. Que lhe restava agora?
Um pardieiro onde já não tinha coragem de morar e sete palmos de terra, como aqueles onde estava a sua Amélia, a sua querida Amélia — que ele nunca mais voltaria a ver!”»[3]
[1] Ferreira de Castro, Emigrantes, 25ª edição, Guimarães Editores, Lisboa, 1996, p. 231. [2] Ferreira de Castro, Emigrantes, 25ª edição, Guimarães Editores, Lisboa, 1996, p. 251. [3] Ferreira de Castro, Emigrantes, 25ª edição, Guimarães Editores, Lisboa, 1996, p. 252.