28 – Loja do Tavares

Localização: Rua Ferreira de Castro – lugar de Salgueiros
Local de implantação: No passeio à esquerda, após a casa e pequeno portão da D. Manuela, a fim de se vislumbrar a paisagem.
Coordenadas GPS: 40°50’12.36″N 8°25’41.47″W
Distância total: 10.68 Km (pedestre). / 9.30 Km (automóvel).
Próxima Estação: 17 m.

Loja do Tavares

«Manuel da Bouça, [no regresso do Brasil e ao chegar aos Salgueiros], o coração a palpitar cada vez mais fortemente, tremia como na noite em que perguntara a Amélia se podiam pôr os banhos.

Dali já se vislumbrava a Frágua e a Bouça, o seu terrunho, a sua fascinação. Mas ele não via a sua casa. “Onde estava? Onde estava?” […]
“Lá estava!” As árvores, que tinham crescido, quase a ocultavam, e as paredes, que ninguém mais caiara, de branquinhas haviam-se tornado escuras e já não brilhavam ao longe.

Às portas da loja do Tavares reuniam-se ociosos e ele desceu do carro, um pouco trôpego, muito fora de si, uma costela a puxá-lo para a timidez e outra para a arrogância.

Não conhecia nenhum daqueles que o contemplavam. Mas já eles se afastavam para lhe dar passagem. Entrou e lá dentro, ao balcão, perguntou pelo Tavares.

Da penumbra do fundo surdiu, vagaroso, um velho de barbas brancas, perscrutante como um míope.

— Ora salve-o Deus! Venham de lá esses ossos!
O velho perscrutava ainda, intrigado.
— Querem ver que não me conhece! Manuel da Bouça…
— Ah! Bem me estava a parecer… Mas quem diria!
Ergueu a tampa do balcão e veio cá fora abraçá-lo.
— Quem diria! Quem diria! Vá lá um homem esperar… Então a mala é sua?
— É, é.
— O Martins deixou-a aí sem dizer quem a mandava, mas eu logo vi que era de “brasileiro”. Aqui não se ganha para comprar malas assim!
Manuel da Bouça sorria, enlevado, quase superior
[1]

Nota:
Quando Ferreira de Castro era criança, existia, no rés-do-chão do palacete atrás de nós, a mais importante casa comercial de Ossela, onde se vendia todo o tipo de produtos. Entre a segunda e terceira porta (sentido Oliveira de Azeméis Vale de Cambra), na parede da casa, encontra-se a pedra [2] rectangular e lisa onde estava fixada a caixa de correio, referida por Ferreira de Castro, na qual colocou, a 30 de Julho de 1909 e a pedido do professor Portela, o requerimento para fazer o segundo exame escolar. 

Casa e estabelecimento eram propriedade do senhorio de seus pais, Manuel José Barbosa, que faleceu em 1923.

Ferreira de Castro e Elena Muriel estiveram instalados nesta casa em 1940, durante cerca de meio ano, em que redigiu A Tempestade e parte de A Volta ao Mundo. 

«E durante esse tempo Elena Muriel chamava algumas adolescentes de Ossela e vestia-as para as retratar. Tinha, sempre, inúmeras à porta[3]
1 – Primeiras Recordações
[1] Ferreira de Castro, Emigrantes, Guimarães Editores, 25ª edição, Lisboa, 1996, pp. 227-228.
[2] Medida: 60 cm X 46 cm; está a 86 cm de altura do chão.
[3] Informação de Elsa Ferreira de Castro, filha de ambos.