27 – A Casa do Nunes

Localização: Rua Ferreira de Castro – lugar de Salgueiros
Local de implantação: No passeio à esquerda e antes cerca de vinte metros da curva acentuada.
Coordenadas GPS: 40°50’9.19″N 8°25’35.01″W
Distância total: 10.50 Km (pedestre). / 9.11 Km (automóvel).
Próxima Estação: 180 m.

A casa do Nunes

Ao viajar de táxi de Oliveira de Azeméis para Ossela, no regresso do Brasil, onde estivera emigrado pouco mais de nove anos, e de ter parado para rever amigos e matar saudades na «loja do Tavares [Manuel da Bouça] ainda se demorou alguns momentos em palreio e, depois, os filhos do Tavares puseram-lhe a mala no automóvel. […]

O carro avançou para ir tomar o caminho da Frágua. Mas, alguns metros além da curva, Manuel da Bouça, admirado pelo que via, mandava pará-lo.

Precisamente no lugar que ele cobiçara, erguia-se, opulento, berrante, dominando todo o vale, com as suas amplas sacadas, um palacete. “Quem tivera a mesma ideia que ele havia tido e que pensara levar a cabo com o dinheiro que viesse a ganhar no Brasil?”

Cada vez mais surpreendido, demorava-se a olhar a soberbia do edifício, com jardim num dos flancos e, no extremo, larga porta de garagem.

“De quem seria? Aquilo ainda era melhor do que a casa que ele havia imaginado para si, porque em ter automóvel nunca pensara e a terra do jardim rendia mais feita horta”.» [1]

De sua casa, na Frágua, e enquanto esperava que Deolinda ali chegasse, vinda de sua residência, na Ribeira, os olhos de Manuel da Bouça «pousaram, lá em cima, no palacete novo erguido à beira da estrada, no mesmo lugar onde ele sonhara erguer um igual.

“De quem seria? Devia ser de “brasileiro” rico, que só os “brasileiros” ricos tinham dinheiro para aquilo. Mas se era “brasileiro”, partira depois dele, que de outro que tivesse partido antes não sabia. Como enriquecera?… Como enriquecera?…”

Começou a sentir hostilidade contra o ignorado dono do prédio […]. “Quem seria? Com a moeda tão por baixo, obra assim não custava menos dos seus duzentos contos [2]… E ele, nem que tivesse ficado toda a vida no Brasil, nunca arranjaria tanto dinheiro…” [3]
[…]
À hora do jantar, feitas as pazes com a Deolinda, que o prazer de a ver levara-o, logo que ela aparecera, a tudo lhe perdoar, Manuel da Bouça não se conteve mais e perguntou-lhe:

— Olha cá: de quem é aquela casa nova nos Salgueiros?
— A casa nova? É do Nunes.
— Do Nunes?
— Sim, do Nunes da Agência. Do que vendeu a passagem e o passaporte ao pai…
» [4]

1 – Primeiras Recordações
[1] Ferreira de Castro, Emigrantes, Guimarães Editores, 25ª edição, Lisboa, 1996, p. 229.
[2] 997.60 €.
[3] Ferreira de Castro, Emigrantes, Guimarães Editores, 25ª edição, Lisboa, 1996, p. 232.
[4] Ferreira de Castro, Emigrantes, Guimarães Editores, 25ª edição, Lisboa, 1996, p. 233.