22 – Crasto

Localização: Rua Nossa Senhora do Crasto – lugar do Carvalhal
Local de implantação: Próximo das mesas em cimento que aí existem.
Coordenadas GPS: 40°49’41.49″N 8°24’56.57″W
Distância total: 8.07 Km (pedestre). / 6.68 Km (automóvel).
Próxima Estação: 1050 m.

Crasto

«[Deverá visitar o crasto de Ossela] quem quiser pôr-se em contacto com o passado desta região […].

[Nesta] colina, antigamente cheia de lares, de muralhas e de armas bélicas, há agora, apenas pinheiros, tojo e soledade. Olha-se para as rochas, tão trilhadas outrora, em busca duma pegada impossível, e só se vêem indolentes sardões expondo ao sol os seus verdes e os seus oiros.

Mas este próprio abandono, este próprio silêncio da terra de onde a vida humana desaparece, torna mais sugestiva, mais profunda, a áspera paisagem. […] [No topo do outeiro há] uma ermida, debaixo da qual o povo crê existirem fantásticos tesouros, e um pequeno adro. […] Em baixo, corre o Caima, entre escuros fraguedos.

O Museu Municipal do Porto mandou fazer escavações neste cerro, em 1908. As picaretas trabalharam dias seguidos, sob os olhos do poviléu que acudia em massa, julgando tratar-se de busca de fabulosos tesouros.

Anos antes, nas Baralhas, aqui perto, um sapateiro encontrara, ao abrir os alicerces para um muro, 16 manilhas de oiro, trabalho pré-romano, que lhe valeram uma pequena fortuna e deram brado entre os arqueólogos.

O crasto de Ossela reservava, porém, surpresas de outra ordem. Levantadas as primeiras camadas de terra, em breve se mostravam, aos olhos dos escavadores, várias sepulturas feitas de lajes, numa das quais se ostentava, ainda, um crânio.

Mais fundo, havia ruínas de edifícios antiquíssimos e, ainda mais abaixo, vestígios de muralhas mais remotas ainda. Moedas de outrora, romanas e lusitanas, fragmentos de cerâmicas de várias épocas, fíbulas, pedaços de vidro e bronze, outros destroços jaziam na terra.

Pelo que se descobriu, concluiu-se que o morro era estação pré-romana. Quando fortificado, devia ter tido duas ou três ordens de muralhas e, dentro, as casas dos habitantes.

Mais tarde, os Romanos apossaram-se da colina. “Efectuada a conquista — diz Rocha Peixoto, então conservador do Museu Municipal do Porto, que ordenou as pesquisas — sobrevivera a residência, como o comprovam alguns restos de loiça do tipo de Arezzo; e, porventura, dilatou-se por muito tempo, extinguiu-se numa época histórica já adiantada e, finalmente, transmudou-se numa vasta necrópole cristã, a seu turno também apagada da memória dos homens”.

Depois destas escavações, a terra, que não foi toda explorada, voltou a fechar-se, e assim se encontra, rasa sobre as suas velhas lajes, até que um dia outras picaretas venham procurar, nos declives do morro, o mais que ele guarda ainda no seu silêncio e neste abandono a que a branca ermida parece fazer sentinela[1]

Classificado como “Imóvel de Interesse Público”. DL 67/97 — Diário da República de 31/12/1997.

1 – Primeiras Recordações
[1] Ferreira de Castro, «De Oliveira de Azeméis a Vale de Cambra», Guia de Portugal, Beira Litoral, 3ª edição, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 1993, pp. 608-609.