18 – Tio Zé Moleiro

Localização: Caminho, a Sul da Rua da Quintã – lugar da Quintã.
Local de implantação: Próximo do moinho do Tio Zé Moleiro.
Coordenadas GPS: 40°49’21.65″N 8°25’30.17″W
Distância total: 3.06 Km (pedestre).
Próxima Estação: 1678 m.

Tio Zé Moleiro

«O meu afecto pelo Tio Zé Moleiro provinha de ele ser, entre todos os demais habitantes, o único que representava para mim a poesia humana da aldeia. […]
[…]
[A] vida do Tio Zé Moleiro decorria no trecho do Caima que foi para mim, em criança, o mais lírico e tentador. Após o açude, de onde manava a levada para o moinho, o rio entortava-se numa curva e logo se endireitava por entre frescos carvalhos duma banda, verdes pâmpanos da outra, desvelando mais abaixo uma praia pequenina e doirada e, mais além ainda, uma ilha.

O Tio Zé Moleiro era o único ser humano que convivia dias inteiros com essa grata poesia; e por tão singular privilégio eu o visitava sempre que de Lisboa ia à aldeia.

Oferecia-me o banco em que costumava sentar-se cá fora, sob o dossel de videiras americanas, e trazia lá de dentro um velho caixote para ele. Um ao lado do outro, conversávamos, olhando o rio. Mas com homem de tão escassas frases, só a minha voz se alargava durante a maior parte do tempo.
[…]
Quando nas minhas viagens me lembrava da aldeia, […] era inevitavelmente a figura do Tio Zé Moleiro a primeira que se me apresentava, por eu ignorar onde se encontravam e o que faziam àquela hora os outros habitantes, enquanto ele estava sempre no mesmo no local seis dias em cada sete e quase sempre imóvel, como as estátuas nos jardins.»[1]

1 – Primeiras Recordações
[1] Ferreira de Castro, «A Aldeia Nativa», Os Fragmentos, Guimarães & Cª Editores, 2ª Edição, Lisboa [1974], pp. 50-52.