Testamento do Galo

Testamento do Galo

Já que ‘stou em meu juízo
Testamento vou fazer
Quero deixar os meus bens
A quem melhor me parecer.

Eu deixo as minhas pernas
Por ser de cor amarela,
Ao gato mais lambareiro
Que puder ficar com elas.

Eu deixo as minhas unhas
Deixo-as às mulheres viúvas
Pra s’arranharem de morte
Quando lhes morder as pulgas.

Eu deixo meu bico,
Deixo-o ao galo mais fraco,
Pra quando ele for à bulha
Com outro fazer mais um buraco.

Deixo as penas do rabo
Por serem as mais galantes,
Deixo-as meninas novas
Para dar aos seus amantes.

Quando vos chamar Pila,
Pila, pila vos disser
Não ides lá que é engano,
Que então pilhar-vos quer.

Librai-vos quanto puderdes
Das funções de tais folias
Que nos dias de carnaval
São dias de felustrias.

De Maria Rosa, de 42 anos de idade, Janeiro de 1947