Poesia amorosa

Cantadas

Pelo contexto das poesias amorosas, vê-se que o amor ou a dedicação começam por tudo e por nada.

De passagem tal a fascinação da formosura que o amante jura conquistar o amor, qual velo de ouro e daqui partem todos os vocábulos que só o coração apaixonado sabe ditar.

Da primeira entrevista resulta material que o namorado não mais desvanece e continuamente medita “nas perfeições que te vi.”

Mas porque os namorados não podem permanecer sempre unidos, quero dizer, perto, em geral, a carta de amor logo corre e tão guardada se tem que “tenho-a no peito guardada” com o “suor do meu peito tem a tinta desbotada“.

As entrevistas sucedem-se e acontece que a filha apaixonada combina o casório com o namorado e só depois o comunica à mãe e acrescenta “que é bonito e bom rapaz” e “também tem muito de seu“.

A mãe, porque é mãe, procura dissuadi-la, porque criança ainda, mas a filha persiste na dela, e a mãe acaba por consentir, receando todavia a voz do pai.

Acontece que antes sobrevem a ausência para longe do namorado e da família, e, triste sentida e doloridamente expressa em carta “quanto te quero minha querida” pedindo também para que a amada sirva de correio à família dele:

Olha, leva à minha mãe
Muitos beijos e carícias

e
Engana minhas pobres irmãzinhas
Inocentes, coitadinhas
Que sentem como tu sentes
“.

Há também quem, sob pretexto de passatempo, prometa amar “quando o sobreiro der baga, e o lóreiro der cortiça, ou

se abrir uma flor e tornar-se em botão ou

quando a água fizer calor e o lume refrescar, a chuva não molhar e os limoeiros derem melancias, etc.

tudo isto prá semana dos nove dias; ou

quando a pêga for carriça, a Páscoa for à semana, o ferro tornar-se em cana; ou

quando deixarem de brilhar as estrelas do firmamento;

quando o sol andar com a lua em justiça, os dias santos forem acabar alegando a todos estes motivos a preguiça.”

E o amor, resultado da combinação dos sentimentos de compaixão, benevolência, piedade, carinho e ternura, sem mistura de egoísmo porque irmão da morte deixa de ser amor para se tornar o ódio mais atroz.

Mas nem sempre assim é e poderá acontecer o reverso em vez do rapaz, ser a rapariga e o povo ao exprimir tal facto, perfeitamente sensato, promulga à infada menina:

Quando eu quis, tu não quiseste,
Tiveste opinião;
Agora queres, eu não quero;
Tenho a minha presunção!