Longos vão os anos, que em oficinas de sapateiros, tamanqueiros e nas esquinas dos cafés e mesmo à saída das missas, engraxadores com sua caixas de madeira feitas a propósito para tal efeito, com tinta anilina de duas cores assim como a pomada, escovas para a cor de cada sapato e o pano para o brilho dos mesmos, que em mãos haveis os faziam cantar ao sabor de musicas românticas das épocas.
Sapateiros: eram muitos na nossa terra, que primavam a cortar as peles e as solas ao gosto do cliente, feitio, que recebia as suas formas de madeira, após ter sido gaspeado, pregado e cosido todo à mão, com fio feito a prepósito depois de ter passado varias vezes pela sua perna, direita ou esquerda do artista e no final lhe passar a cera especial, para ser devidamente cosido com a sovela e apertado com elevada força pelos braços do ser humano até que as suas mãos, deixassem marcas e calos por longos anos a fazer esse serviço a coser as solas.
Tamanqueiros: não eram muitos, mas existiam alguns e muito bons, que pregavam nos paus de varias qualidades, socos e chancas e na sua sola pregavam taxas ou pneu de avião para não escorregar e também para que os paus tivessem mais tempo de duração.
Engraxadores: também tivemos muitos, com tinta e pomada outros sem tinta e sem pomada, que pelos dez tostões em cada par de sapato ou bota, de esquina em esquina ou de café em café, vibravam para ver qual deles era o melhor (hoje somente temos um ), que continua no Café Arcádia, quanto aos sapateiros e tamanqueiros, são minoria, os que mantem a tradição e que hoje ninguém compreende.
É um lista tão infindável como o mundo que não termina já. Esse é o nosso prenúncio de felicidade.
“Porque depois do dobrar, os setenta, cada dia é um pedido de empréstimo ao destino e pergunto-me o que restará depois de tudo desaparecer “.
Histórias que passam e outras que ficam em memória.
Memória coletiva e que mesmo assim, valem sempre a pena lembrar.
Foram e são essas histórias que guardei assim como alguns retratos, do século passado, acompanhados pela minha vivência e o ensinamento que colhi ao longo destas épocas, pelo meu pai e amigos que ele e eu, sempre os consideramos…
E hoje tentarei se o nosso Deus, me permitir deixar aos meus como Memória.
Arlindo Gomes