O Alberto Poeta

Em matéria de postura, das virtudes literárias da escrita e da poesia. Excepção feita, a este saudoso ALBERTO POETA.

A literatura popular enchia-o, nas férias que ele, sempre teve sem cerimónias e regras, na Esplanada, ou reservado do velho CAFÉ AVENIDA. 

Após o seu regresso da vida militar, interessou-se arduamente, pelas notícias que incluíam menções de autor de poemas, quadras, com muita leitura e escrita, a quem o acusava de ser neto do poeta de Codal.

Porém, nas suas estantes, este poeta, não o era somente de nome, tinha um lugar garantido. Por formação, continuou a tradição de sua família, lendo os poemas, ensinando a escrever, ler e o fazer de contas, a muitos analfabetos do Concelho. 

A sua pobre educação era sentimental, mais credor de desilusões do que dinheiro. Era uma alma panada sensível e, por extensão, um machista empedernido que não dá ouvidos ao “ lado mais efetuoso”, continuava nas letras, que era tudo aquilo que mais gostava de fazer. 

Creio, que nunca apresentou em público um escrito ou livro, de sua autoria. Comovia-se facilmente com situações que se lhe deparavam pela frente e usava constantemente o “ Café Avenida”, para preparar os alunos ao exame da 4ª, classe, sem que, para tal, lhes exigisse qualquer importância a pagar. 

Dotado de uma cultura, superdotada, este senhor “ Alberto Poeta”, era filho único, solteirão, sempre bem vestido, roupas e gravatas de marca, sempre de várias cores, cabelo sempre bem penteado puxado para trás e muito brilhante, com os produtos mais cheirosos, dessas épocas, que circulavam nas melhores Farmácias, ou perfumarias locais e muitas das vezes procurava-as no Porto. 

Sua mãe era a Dona Emília Poeta, natural da Granja- Castelões, sempre viveu com ele os longos anos da sua vida. Já para o final, trabalhou nos escritórios da Empresa Rimarte, Lda, Industria que estava ligada às latas de Flandres. Mas nunca esqueceu o seu dom de intelectual, charmoso e apreciador de belas companheiras.

Os seus olhos fitavam o papel, estava farto de insistir, e cansado de não desistir, mas sabe que não o pode fazer. Porque tudo o que era deve-o à escrita, cada ideia, personagem, parágrafo, cada rincão e de cada verso surgem-lhe com partículas de uma sinfonia cujo o seu som lhe enaltece o espirito e lhe dá cor à Alma. 

Quem o conheceu sabe que nunca desistiu, no culminar da sua teimosia poderá revoltar-se debater-se, delinear ou enlouquecer mas nunca, jamais, irá morrer sem tudo para recuperar o seu dom. Porque para ele a escrita o ensino, era uma luta contra o fanatismo, a ignorância, e (até mesmo contra o infinito).

Acreditava na esperança na prosperidade, na verdade. A humanidade para ele, só restava um aceno final.

A sua voz não se calava à revolução! E sempre dizia: “Que importa a morte, se o cemitério tem flores”.

E numa conversa amena, numa noite de Natal: “Não há rosas no jardim, mas há couves no quintal”.

Para o Poeta, a maior tragédia, é se o admiram porque não o entendem.

Estes curtos poemas eram de sua autoria. Tinha muitos mais mas, mas por falta de espaço, vou deixar para uma próxima.

Também uma das suas tantas histórias.

Um dia pensou em praticar BOX e mostrou-se muito empenhado, até que um certo dia no velho Mercado Municipal, pensou e preparou-se fisicamente para se bater com o famoso “Santa Camarão, de Ovar”.

Subiu para o Ringue, sem medo, mas não ganhou, mas pelo menos sentiu o prazer de se ter batido com um famoso do nosso País.

E como sempre nos entendemos muito bem. Hoje lhe dedico estas minhas simples quadras.

Juntando aos seus altos conhecimentos, 
E sempre com trajo de elevada perfeição;
Certo dia no velho mercado subiu para o Ringue,
E combateu com o famoso Santa Camarão.

E nesta luta não ganhou,
Mas também não desistiu da sua maneira de ser;
Em sua companhia foram tantos os adultos,
Que ele, ensinou para melhorar e seu VIVER. 

Arlindo Gomes