Lembrados cinquenta e sete anos depois

Foi nesta Estação, que em Maio de 1961, cheguei com o Senhor Augusto da Pinha (Falante) e a sua motorizada de Marca N.S.U, com a cor cinzenta, para juntamente com o Zé Carvalho, entrarmos naquela velha carruagem e estacionarem no Quartel das Caldas da Rainha, para de seguida, embarcarmos no Navio-Barco, que já estava destinado para nós e nos deixar na Província da ÍNDIA, para o cumprimento do nosso dever como Militares em serviço obrigatório. 

Lembrados cinquenta e sete anos depois

Chegados ao Quartel, no dia seguinte fomos os dois alertados pelos altofalantes do mesmo, para comparecermos à presença do Comandante o Coronel Fernando Viotty de Carvalho, o qual após a nossa apresentação com a devida vénia e na sua presença, nos foi dito, que não embarcávamos para a missão que nos tinha sido confiado porque na Escola de Cabos e na Especialidade escolhida tínhamos sido dos melhores do Regimento e que ficarias ali, porque eramos ali necessários nestas Especialidades.

Foi um dia delirante na Velha Cidade das Caldas da Rainha, principalmente para nós os que ficamos e muito triste para os nossos colegas de Companhia que partiram. “ Principalmente os Cambrenses Manuel Mascato e António Pina, de Burgães e da Quintã de Castelões”, que sempre me acompanharam durante toda a recruta e preparação para Embarque, que tínhamos sido escolhidos no ano de 1960.

Estes e outros colegas embarcaram com o destino à INDÍA e nós ficamos, nas Caldas, fazendo mais uns meses até que tivemos a noticia, que estávamos novamente mobilizados para fazer parte do Batalhão de Caçadores 114 e representarmos a C.CAÇ. 116, com destino imediato para ANGOLA… Embarcamos em Lisboa no dia 28MAIO de 1961, a bordo do NAVIO NIASSA, que nos deixou em LUANDA, no dia 09JUNHO, desfilamos pela linda Marginal e Estacionamos no Liceu Feminino, que estava em Construção. Acampamos ali por oito dias, seguindo para a Barragem das Mabubas, por mais por mais uns dias para recebermos instruções sobre a “ Guerra que íamos enfrentar contra os chamados terroristas”. 

Lembrados cinquenta e sete anos depois

E no mês de Junho, lá estávamos nós a lutar com o inimigo, no percurso do Rio Lifune, Quicabo, Biríl,Balacende, Quissacala, Quipetêlo, Beira-Baixa e Nambuangongo.

E foi precisamente no dia 07 SETEMBRO, que sofremos, aquele que foi considerado o maior ataque, do Norte de Angola durante todo o nosso percurso, a lutar com o inimigo. “ QUISSACALA “, a todos nós deixou até hoje memórias inesquecíveis.

E lentamente, seguíamos as picadas, as fazendas, abandonadas e o inimigo sempre se deslocava antes de nós chegarmos ao local que era ocupado por eles, deixavam em alguns dos casos, ainda fogueiras acesas, tudi isto a seguir ao primeiro ataque, pela madrugada no “ Môrro- Quanda Maua”, que deixou ali para sempre um colega da C.CAÇ 117.

Esta luta deu-se depois da CCAÇ 117, nos terem trazido as nossas viaturas e a primeira refeição a quente e na cozinha ambulante que se atrelava à “ G.M.C. “, nós tínhamos atravessado o Rio Lifune a nado, porque a ponte do mesmo estava destruída e apeados, em fila Indiana munidos do armamento que nos tinha sido confiado e o da época “ MAUSER, PARABELAM, CATANA F.RAMADA, GRANADAS DEFENSIVA E OFENSIVA “, assim seguimos o nosso destino, até pernoitar nesse inesquecível “ Morro-Quana-Maua”, que pela madrugada do dia seguinte estávamos as duas Companhias em LUTA, COM OS TERRORISTAS “. Foi o primeiro ataque que enfrentamos com o inimigo, que saiam do Capim, como se fossem formigas a sair dos buracos, foi delirante eram mais os gritos de desespero do que o manejo das armas, do lado do inimigo ficaram bastantes mortos.

A partir daqui, o dormir era pouco e nesse pouco era sempre com a MAUSER, junto do nosso peito e com a bala já na camara e pronta ao disparo. 

Lembrados cinquenta e sete anos depois

Após o término do ataque, recebemos as nossas viaturas, que já se encontravam preparadas para a guerra, com as armas pesadas montadas nos Jeepes e jepões e devidamente protegidas com sacos de areia e chapas em ferro, só com a porta traseira em liberdade para em caso de necessidade saltarmos para a melhor posição de defesa e atacar.

Então seguimos rumo a “ QUICABO “. Onde nos esperava o Comandante do Posto senhor Miranda, mulato muito simpático aqui ficamos por algum tempo, depois de termos recebido algumas casas de colonos totalmente abandonadas e com escrito nas paredes em carvão deixado pelos turras, com a seguintes frases “ BATALHÃO DA MORTE UPA, HOLDEN ROBERTO , ANGOLA É NOSSA “.

E assim continuamos mês após mês, até ao cumprimento do nosso itinerário, com mais lutas e perdas de vidas, desde QUICABO, BALACENDE, QUISSACALA e QUIPETÊLO.

Passado o ano de lutas, regressamos ao CACUACO, descansamos cerca de trita dias e entramos no Barco QUANZA e fomos nele até ao LOBITO, tomamos o Caminho de Ferro de Benguela e só paramos passados muitas horas no LESTE, mais propriamente “ VILA TEIXEIRA DE SOUSA “. Naquele Quartel que ali existia e era ocupado pelos Dragões de Silva Porto.

Aqui não havia “ GUERRA “, controlávamos todos os pequenos pormenores e cativamos imensa alegria em toda a sua população e fazíamos o controlo das Fronteiras, do Katanga e Rodésia.

Também atenuamos a manifestação popular, que estava prevista para a tomada da posse do Quartel, na quadra do NATAL de 1962, onde enviamos para a Cidade do LUSO, mais que ceto e oitenta manifestantes de todas as cores e ideias.

Permanecemos aqui por cerca de ano e meio até regressarmos às nossas origens, em Julho de 1963, desde a Cidade do Lobito a Bordo do NAVIO VERA CRUZ, até LISBOA, chegamos a 24 do mesmo mês e ANO.