Poema escrito e declamado por Ana Homem de Albergaria
Um dia serei raízes da grande árvore do futuro, Abandonando a terra e trepando pela memória De portas e janelas esquecidas; Abraçando o lar que foi meu abandono. E daí, nas paredes do tempo, Verei o que perdi no isolamento da altivez. Nos julgamentos de superioridade Que me afastaram da beleza da diversidade. Verei que vivi rodeada de riqueza e que não a vi. Verei nitidamente o real valor da diferença. E que a minha crença, não era mais do que a minha crença. Os meus valores, não era mais do que os meus valores. A minha religião, era apenas a minha religião. E eu, iludida, acreditava ter um mundo de certezas em minha mão. Quando eu for raízes da grande árvore do futuro, Talvez consiga tatuar no meu tronco as cores da multiculturalidade. Saberei que nenhuma árvore nos dá dois ramos iguais, E que nenhum fruto se repete na sua individualidade, No seu sabor, na sua essência, na sua cor. Um dia serei raízes da grande árvore do futuro. Mas se hoje me abrir em flor ao mundo? Se o aceitar e o abraçar em plenitude? Perfumarei, também eu, o alpendre da minha alma, E nele verei florir trepadeiras de Amor Elevando-se em sorrisos de equidade, Pelas múltiplas faces da Humanidade.