Capela do Solar de Areias

Adolfo Coutinho

por Adolfo Coutinho

Qual a data de construção da Capela do Solar de Areias e sob que evocação?


Nas “Memórias Paroquiais”, de 1758, não se faz qualquer referência à Capela da Casa de Areias.

Em documentos, de 1818 e 1821, aparece identificada como Capela da Senhora da Boa Morte. Na “Monografia de Vale de Cambra”, de Maria Clara Vide, editada em 1993 pela Câmara Municipal de Vale de Cambra, aparece sob a evocação do Senhor dos Aflitos.

A Direcção-Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais (DGEMN), numa inventariação, preparada por Paulo Dordio em 2001, sem indicar qual o orago, localiza a construção da capela da Casa de Areias em inícios do século XVIII.

O Dr. Ruben Alves, técnico inventariante do Departamento dos Bens Culturais da Igreja, do Secretariado Diocesano da Liturgia – Porto, é de opinião que “a Capela será de finais do Séc. XVIII ou inícios do Séc. XIX, como de resto comprova o estilo do altar (neoclássico puro) e também alguns elementos da fachada como o arco da porta.

Penso que a referência que a DGEMN evoca do princípio do séc. XVIII, estará relacionada com algumas das imagens que se encontram na capela e que datam dessa altura (conjunto de anjos tocheiros, Cristo Crucificado principalmente), mas a proveniência delas é desconhecida o que os terá confundido, de resto também o Inventário Artístico de Portugal da Academia Nacional de Belas Artes (Prof. Nogueira Gonçalves também faz a mesma relação, errada na minha opinião).

Em relação ao orago posso confirmar que é de facto Nossa Senhora da Boa Morte, culto muito ligado aos carmelitas que tem muito peso na paróquia de S. Pedro de Castelões.

Iconograficamente simboliza Nossa Senhora em trânsito, pedindo a boa morte a quem pede a sua intersecção.

Em resumo, o orago é Nossa Senhora da Boa Morte, com época de construção (não posso precisar datas) inícios do séc. XIX. MINHA opinião, registe-se”.

A Capela terá, pois, sido construída em finais do século XVIII ou inícios do século XIX, provavelmente por Manuel Soares de Albergaria e Oliveira ou pelo seu filho, Tomás António Leite Soares de Albergaria – Manuel Soares de Albergaria e Oliveira, natural de Moradal, casou com D. Francisca Maria Leite de Matos e Vasconcelos, de Areias, em 7 de Janeiro de 1773; na Casa de Areias, residência do casal, nasceu, em 18 de Agosto de 1790, o seu sétimo filho, Tomás António Leite Soares de Albergaria, o qual, em 10 de Julho de 1815, viria a casar com D. Maria José Cândida Ferraz, natural da Rua das Flores, Porto.

Segundo um assento de baptismo assinado pelo Padre Encomendado Manuel de Matos Pinho, a primeira filha deste último casal, Anna Amália Soares Leite Ferraz de Albergaria, foi baptizada na “Capela da Senhora da Boa Morte da Casa de Areias” em 26 de Agosto de 1818.

Um outro assento de baptismo, assinado pelo mesmo Padre Manuel de Matos Pinho, regista o baptizado, na mesma “Capela da Senhora da Boa Morte da Casa de Areias” da segunda filha do casal, Carolina Cândida Leite Ferraz de Albergaria, em 26 de Fevereiro de 1821.

Os restantes filhos foram baptizados na Igreja Paroquial de S. Pedro de Castelões.

Por morte do Capitão Tomás António Leite Soares de Albergaria e esposa, o Solar ficou para o filho destes, António Soares Leite Ferraz de Albergaria, Barão de Areias, nascido em 16 de Julho de 1824 e que morreu, solteiro, em 5 de Agosto de 1900.

Sem filhos, o Solar ficou para a irmã do Barão, Carolina Cândida Leite Ferraz de Albergaria, nascida em 16 de Fevereiro de 1821 e que morreu em 5 de Janeiro de 1906.

Carolina Cândida casou com António José de Castro Silva, 1º Visconde de Castro Silva, residentes no Porto, que passaram a ser os proprietários do Solar de Areias.

Após a compra do Solar de Areias à família da Viscondessa de Castro Silva, Joaquim Henriques Tavares de Bastos mandou proceder a trabalhos de restauro da capela e ampliação e restauro do Solar.

O JORNAL DE CAMBRA”, na sua edição de 27 de Outubro de 1912, Domingo, noticia assim a “Bênção da Capela Sexta-feira última, (18/10/1912) dia do aniversário natalício do benemérito J. H. Tavares Bastos, foi benzida a capela do solar d’Areias, propriedade do mesmo benemérito, ultimamente mandada reconstruir.

O acto foi muito concorrido e assistiu a música de S. Tiago de Riba Ul que executou até às 22 horas as melhores peças do seu reportório.

Foi queimado muito fogo de artifício, achando-se a capela lindamente iluminada a acetylene”.

Nota: Para mais pormenores, aguardar a consulta do livro “Castelonenses ilustres – Vol. VII”, já em preparação e com apresentação prevista para Maio de 2010.